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31.3.07 

Feijão

É muito engraçado ver essas latinhas de feijão penduradas nessas prateleiras de mercantil. Todas aparentam serem matematicamente iguais, mesmo sabendo que elas são de marcas e gostos totalmente diferentes. O fato é que muitos compradores nem sabem quais latas compram ou gostam, porque elas tem embalagens tão parecidas. Seria como uma roleta russa?

Quando era pequeno, eu nunca gostei muito de feijões. Mamãe dizia que aquilo não fazia bem, trazia efeitos desagradáveis depois de um tempo... mas eu ignorei seus conselhos. Aquelas latinhas traziam uma fascinação, era como se elas pedissem que eu provasse todas elas. Envelheci, mamãe esqueceu essa história de feijões e comprei minha primeira lata. Curiosamente, ela tinha uma embalagem horrenda. E o gosto era terrível. Um dos piores que alguém poderia provar em sã consciência. Mas era a primeira latinha, tinha um valor sentimental. Valor sentimental? Joguei a lata no lixo e tratei de comprar outra.

A segunda latinha possuía um sabor de domingo de manhã. A família se juntava e fazia aquela feijoada, que minha mãe sempre repudiava. Mas eu adorava, porque sempre me interessei como era feito aquele processo. O gosto não era tão bom assim, é verdade. Mas tinha lá suas peculiaridades, logo adotei essa como minha latinha favorita. Curiosamente, na mesma época eu achei uma embalagem escondida atrás da latinha feia do primeiro parágrafo. Ela possuía um formato enigmático, chamativo, mas sem ser estranho aos olhos. Comprei, mas não cheguei a abrir o frasco. Era algo tão curioso que eu tinha medo de abrir. Enquanto isso, eu enjoava da latinha familiar.

Então acontece o estopim: uma latinha estragada me fez ir para o hospital. Aquela latinha que eu tanto simpatizava fez eu ficar internado por uns dias. Prometi a minha consciência que seguiria o conselho de mamãe e não comeria mais aqueles feijões malditos. Saí do hospital, continuei minha vida corriqueira... mas não largava o olho daquela latinha curiosa que eu guardei com carinho. Era como se fosse um "você pode pausar, mas nunca parar". Eu fiquei amigo daquela mísera latinha de feijão. Então sucumbi a vontade. Comprei mais uma latinha, diferente das anteriores. A embalagem dizia que ela possuía um sabor único. Os ingredientes adicionais eram condimentos que eu sempre gostei. Levei, na esperança que essa latinha tirasse meu trauma com freijões.

Quando voltei para casa, eis que minha latinha favorita e lacrada havia sumido. "Roubaram meus feijões!". O gosto que eu tinha em provar feijões ficou em xeque. Sem aquela latinha por perto, era como se todas as outras latinhas fossem iguais e terríveis. Eu queria comê-la, mas sabia que eu correria o risco de nunca mais ter vontade de comer outros feijões. Enquanto a latinha que eu comprei recentemente ainda estava fechadinha, apesar do abridor de latas estar estrategicamente ao lado dela.


Feijões. Se eu como, fico decepcionado. Se eu não como, crio crise de abstinência. Vai entendê-los.

Perfil

  • Meu nome é Bruno. Ou bruN0. Você escolhe.
  • Sou de Fortaleza. Orgulhoso disso, aliás.
  • Gosto de: algo. Talvez mulheres, boa música, amigos e família respondam. Bem fácil de saber.
  • Odeio: verdura. Talvez luzinhas de natal e Dream Theater. E intolerância, sob qualquer aspecto.
  • Quer me ver sorrir? Não. Meu sorriso não é agradável a tal ponto.
  • Quer me ver rosnar? Se você latir e não bater com tanta força, ficaria divertido.
  • Um bom motivo para me conhecer: não sei. Eu é quem preciso conhecer novas pessoas, oras!
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